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terça-feira, 28 de junho de 2011

VIAGEM... CONTINUAÇÃO..... ONÇA

[...]
ONÇA
Vou descendo na correnteza em meu barco sem motor. Um dia o encosto em uma grande praia no meio do rio. É uma imensidade de areia, pássaros esvoaçam de todas as direções. Ao longe, jaburus e garças estão pousados. Peixes pulam fazendo pequenas marolas. Ando de um lado para outro. Encontro uma cova de tracajá e tiro dela 15 ovos, colocando-os nos bolsos. Voltando para o barco, enquanto os cozinho, ouço esturros de onça bem perto, a margem do outro lado. A onça, atrás de caça ou fugindo do homem, atira-se no rio e nada. Fiquei com algum receio. Poderia largar o barco e ir encostar em outra praia, mas já era um pouco tarde. Lembrei-me da fogueira, que eu já havia feito antes, em outras viagens. Resolvi ficar ali mesmo e fazer uma. Mas para isso teria de procurar lenha e transportá-la para perto. Seria muito cansativo. Resolvo assim mesmo ir procurá-la pela praia. Chego perto dos jaburus e garças, que logo levantam vôo, atraído por uma grande árvore seca carregada pelo rio e depositada perto de uma das margens da praia, a uns dez metros dela. Como seria cansativo cortar alguns galhos com o machado e carregá-los, tive a idéia de mudar o barco para perto dela. É o que faço em seguida.
As onças continuam esturrando e o meu receio faz com que as ouvisse cada vez mais perto. Vai anoitecendo, o barco já em frente à árvore. Corto alguns pequenos galhos e acendo a fogueira, bem perto da árvore. Os galhos do gigante tombado pegam fogo e o fogo vai subindo, passando para outros, labaredas envolvendo toda a árvore caída. Faíscas cortam o ar, pequenas explosões brilham como fogos de artifício, línguas de fogo se projetando velozes em todas as direções. Encantado com aquele inesperado passatempo, que fez com que me recordasse das festas juninas na minha terra, esqueço-me das onças, nem mais ouvindo seus esturros. Queimados os galhos, vão caindo na areia, faíscas se espalhando em todas as direções. O tempo vai passando, sem que eu sinta, mas o estômago, por fim, reclama. Jogo minha linha na água, minutos depois pegando uma grande cachorra. Em meia hora estou comendo um gostoso escaldado, feito à luz das labaredas da árvore. Saio do barco e sento-me bem perto dos galhos que continuam em chamas, sentido no corpo o calor do fogo saindo da árvore e riscando o ar. Em certo momento, o que parecia uma das estrelas corta o ar em sentido horizontal e brilhando intensamente desaparece no firmamento. Lembro-me dos extraterrestres. Existiriam mesmo? E se aquela luz fosse de uma astronave?
[...]
De madrugada, ao despertar, vejo que da árvore resta quase que só o tronco ainda queimando. De manhãzinha empurro o barco para fora com a longa vara, olhando-o, de certa forma triste ao ver as cinzas do que tinha sido antes uma frondosa e pujante árvore. Nessa viagem, foi a primeira vez que, dormindo ao relento, senti a Natureza à minha volta, como nossos ancestrais devem ter sentido às vezes.
FIM

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