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sexta-feira, 13 de maio de 2011

CAPÍTULO IV VIAGEM DE CANOA SEM MOTOR

CAPÍTULO IV

Estabeleci uma rotina. Deixava o barco correr, às vezes o dia inteiro, largando sempre de manhãzinha, encostando em uma praia, entre quatro e cinco horas da tarde. Ali dormia, reiniciando a viagem no dia seguinte.

Ia vendo os animais nas margens, eles me olhando tranqüilos, sem nenhum medo. Fitavam o barco, parecendo admirados por verem um monstro silencioso, totalmente diferente dos outros que passavam fazendo um barulho enorme. O que os assusta não é a visão de algo estranho, mas o ruído que faz.

Pequenos tracajás tomando banho de sol, deitados sobre galhos na margem, continuavam assim enquanto o barco passava. Quando eu estava bem em frente a eles, dava um grito e eles imediatamente pulavam n’água.

Quando passava perto de uma casa, tentava encostar, segurando em galhos ou jogando a garateia. Às vezes conseguia, às vezes não. Quando conseguia, ia até a casa, conversando com os moradores longo tempo. Era convidado para comer, para pernoitar com eles. Quando pernoitava, dormia no barco, embora insistissem para eu ficar na casa. Mas eu preferia o meu barquinho com sua barraca de camping, ao qual já estava tão acostumado. Como eu tinha chegado em silêncio, muitos pensavam que estava viajando de canoa. Eu lhes dizia que não que era em um barco. Quase sempre iam olhá-lo, admirados ao não verem nele um motor.

- Ué, não tem motor?
- Não, estou descendo a correnteza.
- Mas como é que consegue, num barco tão grande? Não encalha não?
- Até agora não encalhei. O barco vai seguindo sempre na parte mais funda.
- Como é que se faz para chegar onde quer?
- Não faço nada, não quero chegar a nenhum lugar determinado. Paro apenas onde consigo.
- E quando não encontra uma casa, onde é que dorme?
- Em uma praia onde consigo encostar.
- Tem medo não?
- Por que teria?
- Tem muitas onças por aí.
- Pelo menos, até agora, nenhuma me atacou.
- O senhor tem coragem mesmo. Tem uma espingarda?
- Tenho, mas ainda não foi preciso usá-la.
- É, mas deve ficar sempre vigiando quando estiver encostado.
- E como é que vou dormir, se estiver vigiando?
- Aí sei não.
- Quer dizer que vocês não teriam coragem de viajar assim?
- Cruzes, eu não!

Era outra coisa que eu não entendia. Por que aquele medo? Seria porque estavam acostumados a atacar as onças? Por que pensavam que elas atacariam se não o fizessem? Fiz muitas viagens e conscientemente não enfrentei nenhum perigo. Muitos animais se aproximavam de mim ou do barco, mas nunca uma onça, embora as tivesse visto muitas vezes, nas praias e na mata.

Continua.....

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